Ao contrário do que sugere o próprio título, acredito ter recebido esse conselho por uma fonte não hostil na internet — com razoável certeza que foi em algum vídeo do School of Life do Alain de Botton.
No avançar da vida adulta e com frequentes decisões difíceis a serem tomadas em todos os campos da vida, muitas vezes nos encontramos em meio a impasses em que qualquer movimento parece igualmente errado, ou que é extremamente complexo calcular qual o tamanho do prejuízo e do benefício de cada decisão que podemos tomar. Então, por que não perguntar para alguém, não é mesmo?
Pergunte. Talvez você tenha um bom confidente que poderá te adicionar algum insight. Mas talvez também você receba uma resposta padrão, com a intenção de te animar ou minimizar suas preocupações, mas que não acrescenta nada de novo.
Mas talvez você não tenha esse bom confidente. Ou não confie em alguém o suficiente devido a delicadeza do que está envolvido nessa situação em particular. E você seja obrigado a dar uma de Pelé e analisar a sua situação da terceira pessoa.
Bom. Neste caso, é melhor que o Edson Arantes seja inimigo do Pelé.
Quando você tenta ser seu próprio amigo, você duplica a mesma estrutura de pensamento, com a mesma condescendência a seus medos, apegos, cenários projetados do que pode ser bom e do que pode ser Pepsi ruim.
Amigos querem nosso bem, mas muitas vezes como nós, não sabem como. Um inimigo imaginário, porém, é muito mais objetivo. Um tipo vilanesco saído de um novelão, que quer o seu pior, saberá apontar com precisão e detalhamento o que ele deseja que te aconteça ou qual decisão ele espera que você tome. Com alguém muito mais assertivo, é muito mais claro entender o que está em jogo.
Mas esse uma estratégia assim não acabaria por nos guiar a tomar decisões baseadas na covardia?
Depende da qualidade do seu vilão. Assim como esse tipo odiável deseja que o pior te aconteça, ele também conhece o seu potencial e teme mais que tudo que você atinja seus objetivos e a felicidade. Muitas vezes viver uma vida completamente segura e infeliz pode ser satisfatório suficiente para nosso vilão pessoal, se ele acreditar que você tem potencial para atingir novos patamares de sucesso.
Fica a provocação. É óbvio nem só de inimigos vive o homem. Precisamos de uma rede forte de parcerias e amizades para nos abastecer com coragem para seguir o na vida que realmente queremos e nascemos para viver. Mas, em momentos em que tudo travar, pense em como atrapalhar a alegria desse adversário imaginário.